“A chave que virou dentro de mim, antes do Ano Novo chegar”
O textão de Boas Festas e Retrospectiva de 2019 estava quase pronto uma semana atrás. Ia contar a história de um ano que estava competindo com 2013 pelo posto de “o que foi esse ano, gente? Alguém anotou a placa?”. Já tinha o conteúdo praticamente desenhado na minha cabeça. “Acaba logo esse ano”, “haja perda”, “quanta gente sofrendo, quantas tragédias!”, “que mundo maluco”, “tá todo mundo mal”, “o que eu fiz para passar por isso?”, “já chega de 2019”, etc. Todos os jargões na ponta da língua para desejar um 2020 melhor (porque não tinha como não ser, afinal, que 2019 difícil).
Acontece que uma chave importante virou aqui (e ela sempre vira dentro - e não fora - da gente) e eu comecei a enxergar esse ano estranho (sim, foi - fato!) com um filtro diferente.
Teve dor? Teve. Teve perdas importantes? Ô! Teve mudança imprevista, alarme de incêndio, volta das crises de pânico e visita da depressão, depois de tantos anos? Teve.
E não foi fácil, mesmo. Em muitos dias eu pensei, muito seriamente, em desistir. Final de novembro estava fazendo orçamento de seguro de vida para meu marido ter uma reserva e poder cuidar dos gatinhos quando eu partisse. E teve MUITA vontade de partir, logo, ou ser abduzida - gente, quanto eu desejei uma intervenção alienígena, já! Teve falta de ar, coração na boca e na mão; teve MUITA frustração, decepção, ansiolítico, analgésico, barulho, tristeza, raiva e dor. Teve muita lágrima. Muita, mesmo. Lágrimas debaixo do chuveiro, para ninguém ver - e lágrimas que não pude conter. Enfim, foi punk. Ponto final.
Só que chegou dezembro e alguma coisa aconteceu. Digo que foi meu Milagre de Natal. Quando a chave virou e esse filtro veio, claro que com algumas intervenções externas porque sou humana (gratidão, Dr. Luiz, pela assistência cuidadosa, gentil e profissional), comecei a olhar para esse ano que está chegando ao fim com olhos de profunda, genuína e fundamental GRATIDÃO. Sem medo de parecer piegas, é tudo que sobra aqui, em mim: gratidão.
Joguei fora todo o lixo. Precisava mesmo expurgar coisas, limpar a casa, organizar a bagunça. Depois de passar a grande tempestade, os pássaros começaram a cantar na minha (nova) janela e eu me dei conta de que tudo, absolutamente tudo mesmo, estava acontecendo para o bem maior. Como sempre é, mas a gente nunca percebe quando está no meio do furacão.
A (segunda) mudança não programada, mas necessária, nos devolveu a paz que não tínhamos mais no apartamento antigo, que era novo em maio. Paz que se tornou o único tesouro que preciso nessa vida.
Tudo que vivemos, eu e meu marido, nos fortaleceu enquanto casal. Os gatinhos, que viviam tensos e assustados, estão mais felizes. Nosso lar mudou de cara, de cor, de humor. Tem mais luz e gentileza num lugar muito mais simples, que não precisa de nenhum luxo ou “estrutura de lazer” para nos servir. O que nos serve, aqui, é a tranquilidade de poder habitar um espaço onde nos sentimos seguros, protegidos, amparados.
Olhei para a linha do tempo e percebi que, profissionalmente, caminhei em linha progressiva contínua. Nunca houve um regresso, nem com toda a crise no âmbito pessoal. Eu poderia ter feito mais coisas, é verdade; acabei adiando ou esquecendo alguns projetos. Mas acolhi minha humanidade, meu limite, minha dor - e aceitei que eu deveria entregar o que podia, o que havia sido acordado. E fiz isso, modéstia a parte, muito bem. Não esmoreci um segundo sequer neste quesito. Acredito que muitos dos meus clientes nem desconfiavam do que eu estava vivendo. Porque Deus, esse que nunca me abandona, me sustentou todo o tempo.
Ademais, com a nova lente, entendi que vivi coisas lindas em 2019.
Fiz uma viagem de aniversário especialíssima, muito bem acompanhada. Senti coisas que nunca tinha sentido - e como isso foi bom! Entrei em contato com novas e preciosas pessoas e hoje, olhando para cada uma delas (não vai rolar citar todas, sei que vou esquecer alguém, então me perdoem por isso), percebo o quanto elas TODAS me ensinaram, me nutriram, me tornaram melhor.
Desenvolvi trabalhos lindos e produzi muito conteúdo de imensa qualidade. Mudei a cara do meu site, voltei a me movimentar nas redes (pelo menos as digitais); iniciei uma pós-graduação incrível que tem me ensinado tanto, mas tanto que às vezes nem acredito; fiz todo o conteúdo da mentoria online; realizei treinamentos, palestras, mentorias “secretas” e tive muito sonhos e insights do que vem por aí.
E sabe: o que vem por aí é lindo! Imenso, grandioso, potencialmente transformador.
É isso que consigo enxergar desse lugar, no final do ano: tudo o que vivi, todas as dores que superei, todas as experiências foram preciosas lições para exercitar a musculatura emocional que eu ainda precisava reforçar para encarar o que vier. O que vem. O que virá. E eu sei que isso é muito maior do que tudo que eu poderia imaginar.
E falo isso porque minha fé, essa que me sustenta, me diz que eu estou pronta. Não apenas para o ano novo, mas para uma vida nova. Que eu escolhi, que eu escrevi, que eu planejei e sonhei.
Os acontecimentos externos sempre poderão tentar me desviar do centro, da linha reta, do caminho do meio. Sei disso, hoje mais que nunca.
Acontece que DENTRO de mim algo nunca muda, embora por vezes eu esqueça: a certeza de que somos filhos de DEUS. TODOS NÓS MERECEMOS E PRECISAMOS ESTAR AQUI, EXATAMENTE ONDE E COMO ESTAMOS. Merecemos, sim, ser mais felizes, buscar mais coisas, pessoas, lugares que nos aqueçam o coração, nos nutram e acolham.
Fazemos o melhor que podemos, sempre, com o que nos é dado. E às vezes nem sempre nos são dadas as limonadas saborosas, prontas. Às vezes é só o limão, mesmo, amargo. Daí a gente tem que arregaçar as mangas, espremer o suco, transformar o azedo em doce e fazer uma belíssima de uma caipirinha! Para que limonada, se o limão pode virar uma deliciosa caipirinha?
Quando a gente entrega o controle, abre mão dele, algo incrível acontece: a vida. Ela, em si, é boa. A gente que se permite aborrecer, derrubar, sofrer - de acordo com as crenças que a gente tem e com a necessidade que ainda temos de aprender algumas importantes lições. Então o recado pode vir duro - mas pode ter certeza de que os sinais já vinham sendo dados antes, e eles são mais sutis.
Quando a gente tem a flexibilidade de olhar por todos os lados, entender as diversas caras que um problema tem, quase sempre enxerga que o problema em si não é o problema - é só um lembrete para a gente olhar para algo que precisa ser mudado, curado, esquecido ou lembrado.
Há coisas fora de nós sobre as quais não temos controle. Fato.
Só que também há coisas dentro de nós que podem nos ajudar a regular como interpretamos (e o que fazemos sobre) essas coisas de fora. Esquecemos os recursos internos quando estamos em “crise”. Esquecemos até quem somos. E “voltar” a si, em alguns casos, pode ser um movimento bem difícil mesmo. Por isso, para começar a finalizar esse textão de ano novo, eu deixo um apelo importante. Para todos os meus amigos, conhecidos, colegas, familiares, vizinhos - humanos.
PEÇA AJUDA se o que está acontecendo fora (ou dentro) te causa uma dor insuportável. SINALIZE o quanto está doendo e busque as pessoas certas. Às vezes os profissionais certos. A medicina certa. A religião certa. Os amigos certos. Mesmo que não pareça “certo” ou você duvide: tem MUITA gente aí que pode SIM estender a mão para te socorrer de um afogamento, quando você esquecer que sabe nadar. A gente esquece, mesmo, na hora do desespero, que sabe nadar.
Mas é por isso que Deus coloca salva-vidas no caminho, a postos, todo o tempo.
Acontece que você precisa levantar a mão. Ninguém vai saber se você está só brincando na água ou está se afogando, de fato, se você não se esticar para pedir ajuda e dizer: é sério, alguém me ajuda aqui.
Não há vergonha NENHUMA em admitir sua fragilidade diante de um mar que engole a gente. Ninguém, além de você, conhece o impacto que TE causa a sua dor. E acredite: todos sofrem. De alguma forma, por algum motivo - só que cada um tem um jeito de administrar o seu próprio sofrimento. Ninguém pode ser julgado pelas escolhas que faz quando há dor envolvida. Hoje eu consigo compreender (e ter mais compaixão por) quase tudo e quase todos os caminhos que se escolhe neste momento. A maioria das pessoas, já te adianto, sofrem sozinhas, caladas, com medo ou vergonha de admitir ou pedir ajuda - então implodem quando chegam no limite. E muitas vezes não voltam de lá.
Por isso partilhe, compartilhe, experimente acreditar que estamos todos conectados por uma rede invisível e não há acaso, não há coincidência ou “sorte”. Está tudo lindamente entrelaçado. Caprichosamente conectado.
Pode ser difícil de enxergar assim quando a gente está se afogando - mas depois de todo o terror de quase morrer vem o alívio de se perceber vivo, pronto para renascer. E quando isso acontece, gente, estouram bolhas de champanhe em nossa alma. Acontece o nosso Réveillon particular.
Foi isso que aconteceu aqui, em mim. Estourei os champanhes de um ano que ainda não começou fora, mas está lindamente escrito aqui dentro. E ele é tão bonito de predizer, de enxergar, de sonhar ver acontecer, que TODAS as mazelas de 2019 vão ficando pequenas perto do que se apresenta.
Virei a chave antes do Cristo nascer. Porque Cristo vive em mim, vive em nós, o ano todo. Ele não espera 365 dias para dar a volta em torno do Sol. Ele é o Sol, as estrelas e os planetas. Para mim o Pai, o Filho e o Espírito Santo - para você pode ter o nome que quiser! Ele, o Cristo para mim, nos convida a sermos cristãos todos os dias, a vida inteira, inspirados e movidos pela sua mensagem, sua vida e exemplo de Amor. O Amor como remédio para TUDO. Sempre AMOR. Por isso eu O sigo. Sem a necessidade de nenhum intermediário - porque Deus está ao alcance das nossas mãos. Elas só precisam ser estendidas.
Pratique o bem, ajude quem precisa, não perca uma oportunidade de fazer um elogio, pense duas vezes antes de fazer ou falar algo que vai machucar alguém, pratique ativa ou discretamente a caridade, auxilie todos que vierem até você, dedique tempo à sua família, ao núcleo familiar que te cerca e aos seus amigos mais importantes, dê a eles sinal de vida quando se fizer ausente, diga àquelas pessoas especiais o quanto elas fazem diferença em sua vida, faça homenagens enquanto elas estão vivas e não espere que a morte chegue para lembrar que podia ter estado mais perto (ou dito mais coisas), cuide-se com amor, cuide do que você usa com amor, pare de comprar coisas de que você não precisa, doe o que tem em excesso, livre-se do que está de atrapalhando, prendendo ou machucando, ande em linha reta, reveja conceitos, se livre dos preconceitos, se abra para coisas novas, questione tudo (muito!) e não se deixe levar por discursos prometendo soluções rápidas ou dinheiro fácil, haja de boa-fé, brigue pelos seus direitos,
seja mais gentil com seus próprios (e os alheios) defeitos, corte o mal pela raiz, peque pelo cuidado, evite a distração e a negligência.
Caminhe mais, se alimente o melhor que puder, beba bastante água, durma bem, de preferência mais cedo, assista menos jornal e a TV Aberta de forma geral. O que dá audiência é notícia ruim e a mídia sobrevive disso. Por isso, acesse conteúdos que edificam, agregam, nutrem e fazem seu coração sorrir. Fique perto de gente que faz seu coração sorrir - e permaneça perto quando elas pararem de sorrir subitamente, porque elas também são humanas e tem seus dias ruins - e só de ter você ali, do lado, para escutá-las, tudo pode ficar melhor.
Entenda os sintomas, esclareça as doenças, vá ao médico, faça os exames, mas não deixe que o excesso de temor te enfraqueça. Você está seguro e protegido, é um filho amado de Deus e tem o direito de estar aqui. E estar aqui, por mais que as vezes pareça uma jornada sem fim de testes de paciência, é o tesouro mais precioso que você poderia receber. Viver, mais que sobreviver, é uma experiência que poucos tem coragem de encarar - mas, se você ousar mergulhar na vida dentro e fora de si, vai entender que nós somos como toda a criação e a natureza. Que é cheia de ciclo e fases, com recursos quase infinitos (mas que precisam ser cuidados e preservados), com uma diversidade absurda de tipos e espécies tão diferentes (mas cada um faz um papel e ele é importante no ecossistema), funciona de forma sistêmica, integrada, colaborativa e perfeita.
Somos natureza, da espécie humana. A mais complexa, bonita e rica espécie que já existiu. Estamos aqui de passagem - e esse planeta nos convida para muitas aventuras interessantes. Escolha a sua jornada, todos os dias, e siga seus instintos. Use seus talentos. Respire fundo e bem. Faça novas e melhores escolhas. Mude. Mude tudo que precisar ser mudado, tantas vezes quantas forem necessárias, sem hesitar, buscando o seu bem-estar e uma vida boa e saudável. Porque a felicidade constante, acredite, não existe. O excesso de positividade pode ser tão tóxico quando a negatividade - e também adoece. Cuidado com excessos, de forma geral. No entanto tente ver as coisas pelo melhor ângulo. Isso vai tornar sua vida mais leve.
A vida é muito curta para a gente perder tempo com coisas que nada nos acrescentam ou não fazem sentido. Seu ano novo vai chegar quando você se der conta de que é você a única pessoa capaz de virar a chave que regula o seu olhar sobre as coisas. Sim, pode pedir ajuda para alguém te lembrar - mas é seu trabalho cuidar de si e buscar, como borboleta, sair do próprio casulo e voar.
Há muitas cores para além da escuridão que as nuvens das tempestades nos impedem de ver. Abra os olhos de ver as cores. Toda tempestade acaba - até que venha outra começar, aproveite os dias de sol.
Ah, por fim, meu último conselho: acrescente humor em sua vida. De qualquer forma, de qualquer tipo. A alegria é uma bênção e arma poderosa contra a dor e a tristeza.
Não importa o que você esteja passando agora, de bom ou de mal, não esqueça: vai passar. Nada aqui é eterno, por isso mesmo a gente tem que viver cada segundo como se fosse o último: da melhor forma possível.
Porque, afinal de contas, é mesmo como dizem: tudo passa. Até a uva. 😊
Boas festas e gratidão por ter feito o meu ano (e a minha vida) melhor.
Com amor,
Rafa
P.S: se magoei alguém, sem querer, peço perdão - foram resquícios da obra interna (e externa), da imensa reforma que precisei fazer - e ela pode ter sido barulhenta, às vezes - mas o pior, mesmo, já passou. Ufa!
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