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Folha branca
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Foto do escritorRafaela Manzo

Precisamos comunicar o que sentimos

Imagine que você tem uma ferida, pequena e incômoda, na pele. No começo ela causa desconforto, mas você aprendeu desde cedo a não incomodar ninguém com coisas "pequenas". Todos estão ocupados e estão enfrentando seus próprios dramas cotidianos.


Então a ferida cresce. Você não estudou para tratá-la, mas acha que não é o caso de ir ao médico ainda. Você está apagando seus incêndios, acaba se acostumando com a dor que a ferida causa. Coloca um curativo por cima para ninguém ver ou perguntar algo sobre ela.


Os dias seguem e a ferida está crescendo. Inflamou. Sua pele tem um buraco imenso, a dor é insuportável. Você já não consegue conviver com a dor, mas sabe que tem muita gente lidando com feridas e dores maiores. Segue calado e sofrendo. Um dia a ferida te mata e quem te rodeia se pergunta: por que ele(a) escondeu essa ferida de nós? Não há tempo de remediar.


Essa é uma história comum na vida de muita gente. Os desfechos são variados, infelizmente às vezes trágicos.


Marshall diz, numa das premissas da Comunicação Não Violenta, que toda ação violenta de um indivíduo é resultado de uma necessidade que não foi não atendida (entendida ou comunicada).


Esperamos a violência se manifestar e ceifar vidas e só nos questionamos sobre quais as necessidades não atendidas quando é tarde.


Por isso precisamos falar sobre nossas feridas. Precisamos falar claramente sobre as nossas emoções, sentimentos e expectativas.


Se não com um profissional, ao menos com os amigos e a família: os que amamos e convivemos precisam saber das nossas feridas enquanto elas são pequenas e mais fáceis de tratar.


Todos os sintomas que estamos vendo, manifestados de formas violentas, um dia foi uma ferida pequena. Se tivéssemos trazido à tona antes, se expuséssemos claramente o que nos incomoda em vez de colocar tudo debaixo do tapete e fingir que não tem nada acontecendo, talvez tivéssemos outros desfechos.


Nossas emoções, quando represadas, vão ficando maiores. Se a água não extravasa e não nos expressamos, as barragens vêm abaixo, causando mais dor e maiores estragos.

Esse é o momento de falarmos sobre nossas emoções represadas e cuidadosamente contidas. É o tempo de assumir e tratar as feridas. É o tempo de nos curar, individual e coletivamente.


Isso começa pelo primeiro movimento necessário: a coragem de falar.

A gente só precisa começar.


Porque é bem menos caro, em todos os sentidos, prevenir - do que remediar.

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