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Escuta: você está pronto para isso?

  • Foto do escritor: Rafaela Manzo
    Rafaela Manzo
  • 8 de dez. de 2022
  • 3 min de leitura
Escuta ativa

Nos últimos anos, especialmente atendendo pessoas e instituições que se dedicam a cuidar de outros utilizando todo o tipo de ferramentas, entendi que temos um déficit importante em uma das principais habilidades da comunicação: a escuta.


Há cursos e formações que nos ensinam a falar adequadamente, a hoje famosa oratória. No entanto não há esse mesmo investimento e/ou interesse para o exercício da real escuta, aquela que fazemos à luz da comunicação não violenta: com empatia e sem julgamentos.


Nos últimos dois anos experimentei situações que me fizeram entender não apenas quanto o mundo está carente de disposição para a escuta, mas também o quanto de responsabilidade eu mesma tenho em criar espaços em que possa ser ouvida e, mais que isso, limitar os espaços onde a “fala” do outro, em vez de contribuir, só faz mal.


Explico: cresci cercada de pessoas que falavam muito, às vezes num tom de voz muito alto ou sem filtro, compartilhando muitas vezes informações desnecessárias ou inoportunas. Na contramão dessa tendência eu construí, em mim, a obrigação de uma fala sempre compassiva, resiliente, pacífica e, para além disso (e justamente onde mora o perigo), uma fala passiva.


Não responder, para mim, era a melhor saída para evitar ou diminuir o potencial destrutivo de um conflito. Silenciar foi quase sempre minha opção, repetidas vezes, em contextos variados da minha vida profissional e pessoal.


Muitas vezes ouvi: por que você não reage? Por que não responde à altura?


Em outubro do ano passado, vivendo um puerpério difícil, eu novamente me calei para evitar explosões num cenário que parecia um barril de pólvora.


Estive na sala com uma pessoa que supostamente estava “cuidando” do meu bem-estar e passei quase meia hora apenas escutando seus gritos, queixas, inferências e suposições. Só consegui chorar. Beber água e chorar. Não fui capaz de responder, gritar de volta, revidar a “surra” que estava levando num momento de extrema vulnerabilidade. Eu estava num lugar onde obrigatoriamente deveria ser escutada – não ainda mais violentada. Não consegui pronunciar uma única palavra diante do desequilíbrio e fúria do meu interlocutor. Esse foi um dos episódios mais violentos e traumáticos da minha vida.


Dentro de casa, antes desse episódio, eu explodi pelas mesmas razões. Fui incapaz de dizer: ei, vocês estão invadindo meus espaços! Saiam já daqui: eu e minha filha precisamos de cuidado e paz. Se vocês não têm condições de fazer isso: vão embora, parem de falar. Se não podem efetivamente ajudar, então sumam daqui!


Essa fala, para mim, carregava o rótulo de “violenta” – então eu silenciei. E isso me custou muito. Muito.


Hoje teria feito diferente em todas as situações que mencionei. Silenciar não me parece mais uma opção válida ou saudável.


Responder, em muitas situações, pode ser sim a solução mais compassiva consigo. É um caminho de autocuidado e autorrespeito necessário para se preservar sua paz e saúde.


A gente precisa ser capaz de dizer ao outro o quanto sua fala pode ferir, o quanto suas fórmulas mágicas e respostas prontas podem invadir, causar mal ou piorar uma situação real.


Essa fala pode vir de pessoas que deveriam estar cuidando da gente, efetivamente. Esse cuidado muitas vezes só precisa vir na forma de escuta. Uma escuta real, essa que mencionei no início, realmente compassiva.


Se escutamos para responder ou “palpitar”, sem prestar atenção no que realmente está por trás da fala do outro (e às vezes essa necessidade é de um abraço, simples assim), não estamos realmente ouvindo.


A pergunta que te faço aqui é: quão hábil você é em escutar, efetivamente, alguém? Sem tentar se comparar, competir, explicar, justificar ou sugerir soluções prontas para minimizar a dor do outro?


Talvez essa seja, no catálogo das competências humanas, a nossa maior fragilidade atual.


Vamos aprender, juntos, a efetivamente ajudar as pessoas com a nossa escuta? Porque pode ser mesmo bonito falar bem – mas em determinadas situações você só precisa saber escutar bem.


Não escutar com a mente ou os ouvidos, mas com o coração.


Você está pronto?

 
 
 

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